Nesta tentativa de pensarmos sobre o que significa hoje continuarmos a trabalhar sobre “os clássicos”, o Teatro do Vão convidou André Tecedeiro para escrever o texto. O LAGO DOS CISNES é, assim, um texto inédito, que será finalizado com e para es intérpretes escolhides. Deixamos um excerto:
VOZ QUE INTERROGA
Que sobra então dessa história? Havia um lago?
ROTHBART
(firme)
Sim, havia um lago
(a iluminação revela o lago)
VOZ QUE INTERROGA
e havia cisnes?
ROTHBART
(melancólico)
Sim, havia cisnes.
(a iluminação muda, revelando os cisnes, um a um)
VOZ QUE INTERROGA
Pode então dar-nos a sua perspectiva sobre o que aconteceu nesse dia?
O Lago dos Cisnes, segundo Von Rothbart
A narrativa de O Lago dos Cisnes centra-se geralmente no par romântico composto pelo príncipe Siegfried e Odette.
Odette, aprisionada no corpo de um cisne pelo feiticeiro Von Rothbart, só revela a sua natureza humana por algumas horas da noite. Quando a descobre num bosque, o príncipe Siegfried apaixona-se por ela, mas o plano de Rothbart é que seja a sua filha Odile, o Cisne negro, a casar com Siegfried.
A versão que desenvolvo para o Teatro do Vão conta esta história pela perspectiva de Rothbart, o feiticeiro.
Trazer o antagonista para o centro da narrativa permite-nos explorar a sua complexidade, crenças e motivações, e possibilita um olhar crítico sobre a narrativa tradicional.
Autores como Bruno Bettelheim ou Sheldon Cashdan têm explorado a forma como os contos-de-fadas ajudam as crianças a lidar com seus conflitos psicológicos. Nos conflitos das personagens projetamos os nossos conflitos internos e isso permite-nos compreender as nossas emoções.
Num mundo ferido pela extrema polarização, fará sentido a insistência na dicotomia entre o bem e mal? Que significaria hoje a oposição da pureza de Odette à maldade representada por Odile? Não será hoje urgente aprender a conviver com as nossas zonas cinzentas?
Através das palavras de Rothbart, acedemos àquilo que as histórias tradicionais, na sua sede de simplificar, escondem sobre a diversidade humana. A lógica monotípica dos contos de fadas é destruída, sem destruir o potencial mágico e maravilhoso.
André Tecedeiro
OPEN CALL
O Teatro do Vão está à procura de 4 intérpretes para integrar a sua nova produção O LAGO DOS CISNES, com direção de Daniel Gorjão e texto de André Tecedeiro. Audição aberta para TODES es intérpretes que tenham experiência em teatro e/ou dança, independentemente da idade, nacionalidade, género, origem étnico-racial, deficiência ou incapacidade, orientação sexual e religião.
PERÍODOS DE TRABALHO:
24 de janeiro, 28 de fevereiro e 14 de março (2025) – encontros para finalizar o texto com es intérpretes, em Lisboa
Abril e Maio (2025) – ensaios (um período), em Lisboa
Maio e Junho (2025) – apresentações públicas
CONDIÇÕES CONTRATUAIS:
Contrato de trabalho a termo, tempo parcial
Vencimento base ilíquido 1100€
CANDIDATURA:
Informações sobre o projeto: www.teatrodovao.com
Contacto: producao@teatrodovao.com
Prazo limite: 25 de agosto de 2024
Respostas às candidaturas / chamada para audição presencial: 05 setembro 2024
Documentos a entregar:
– Breve nota biográfica, com fotografia
– Um texto que te apresente e ligue ao projeto (máximo 1 página)
– Um elemento que te identifique (portfólio, showreel, outro)
Apenas serão consideradas as candidaturas que incluam estes 3 elementos e que tenham sido entregues, por email, dentro do prazo estipulado.
Todas as pessoas que se candidatarem terão resposta.
AUDIÇÃO PRESENCIAL:
18 e 19 de setembro de 2024, horário a definir, no Centro Cultural de Belém
RESULTADOS AUDIÇÃO:
Até dia 14 de outubro de 2024
Todas as pessoas terão resposta, independentemente da sua integração no projeto.