olhar-inabitado

O olhar Inabitado das Manhãs

O Olhar Inabitado das Manhãs são as sobras dos poemas. É um espetáculo que fala da Sophia, sem lhe revelar nunca o nome, que traz na voz poesia sem querer e sem ser metáfora, que encerra, caixa negra, a intimidade da palavra (a menos orgânica forma de ser e sentir) com a natureza do corpo e com o próprio corpo, que é natureza. Traz a melancolia de quem se sente um espetro, de passagem, de quem sabe que terra rocha fogo vento e céu são simultaneamente anteriores e maiores do que nós. Nenhuma palavra terá a força de um trovão. A palavra céu é tremenda de pequena. E se escrevo luz nada se ilumina. Então o Daniel escolhe uma atriz, que se chama Sara Carinhas e, também ela, traz um nome feito de rochas ou pedras preciosas, não importa, é um nome que veste a mulher, gato assustado, frágil – então o Daniel desenha-lhe uma esquina e eu dou-lhe um canto. É assim: a mulher do olhar inabitado tem poemas dentro da boca.

Pensar o universo que um olhar nos transmite. Um olhar que vi nas fotografias e nos documentários, que imagino quando leio as palavras que me tocam. O olhar daquela que tem “medo de amar num sitio tão Frágil como o mundo”. Uma natureza maior que todos nós, uma espera, e um deus, e uma poesia que queima e arde, e a vontade da contemplação serena. O corpo que habita. O corpo que pode ficar para sempre e é nesse para sempre, que se dá uma manhã inabitada. Estas lá vivo, mas ficaste para sempre, e se ficas para sempre, se nem a maresia das manhãs te toca a natureza, não consegues salvar o teu corpo.”

[Daniel Gorjão]

Ficha Artistica

Direcção Artística | Daniel Gorjão
Texto | Cátia Terrinca a partir do universo de Sophia de Mello Breyner Andersen
Interpretação | Sara Carinhas
Produção e Desenho de Luz | Sara Garrinhas
Produção Executiva e Apoio Técnico | João Figueiredo Dias
Direcção de Produção | Cristina Correia
Design Cartaz | Ricardo Aço
Execução de Figurino | Teresa Capitão
Comunicação | Rita Tomás

Duração | 50 minutos

M/12

Estreia

17 a 19 de Julho de 2014 | Jardim Botânico do Museu Nacional de História Natural e Ciência, Lisboa

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